terça-feira, 16 de novembro de 2010

Doutor Jivago

Há poucos dias, andei revendo o clássico Doutor Jivago, dirigido pelo consagrado David Lean (que também é diretor dos fantásticos A ponte do rio Kwai e Lawrence da Arábia). O longa, ganhador de cinco prêmios da Academia, é um épico reconhecido por quase todos os apaixonados pela sétima arte como um dos melhores filmes da história do cinema.

Muito embora eu tenha minhas opiniões de cunho estético sobre o mérito cinematográfico de Doutor Jivago, não é a tais opiniões que pretendo me referir aqui. Gostaria, apenas, de falar sobre alguns dos aspectos do discurso que esse filme parece, na minha opinião, transmitir.

Em primeiro lugar, para quem não viu o filme (corre pra ver, meu filho!), vou contar rápida e superficialmente sua premissa: o desenrolar da narrativa inicia-se no contexto das agitações imediatemante anteriores à Revolução Russa. Conta a história de um jovem médico que, em meio à revolução, tenta reconstruir sua vida, ao mesmo tempo em que lida com uma paixão paralela a seu casamento.

Retirando de nosso foco a bela trama amorosa apresentada em Doutor Jivago, vejo nesse longa algo que, para mim, é por demais interessante: ele demonstra a sincera perplexidade dos indivíduos criados no ambiente cultural anglo-saxão diante das possibilidades criadas pelo socialismo. No filme citado, isso fica tão claro que chega ser engraçado.

Sendo assim,Doutor Jivago, como eu já disse, tranborda de juízos (quase todo eles negativos) em relação àquilo que a Revolução Russa conseguiu instalar na Rússia. Não quero, aqui, ser um daqueles teóricos da conspiração que dizem que a indústria cinematográfica das suprproduções seve para instalar na cabeça das pessoas do mundo todo o ideário da dominação imperialista anglo-saxã; minha pretensão é, apenas, mostrar o quanto americanos e britânicos normalmente não conseguem conceber determinadas coisas buscadas pelo socialismo.

A princípio, o filme dirigido David Lean parece se colocar contra as óbvias injustiças cometidas pelas elites russas contra o povo. Isso fica claro, por exemplo, na cena em que a cavalaria do exército russo massacra cruelmente uma pacífica manifestação de trabalhadores, que protestavam pela melhoria de suas condições de vida. Mas, apesar dessa tendência anti-opressora, o longa parece condenar algumas das modificações impostas pela Revolução.

Isso fica claro, por exemplo, na cena em que um dos personagens do filme volta à sua mansão. Essa, ocupada por representantes da Revolução, tornara-se moradia coletiva, dividida entre pessoas colocadas, ali, em situação de igualdade. Podemos perceber, ali, o quão estranha é, na ótica de um americano ou de um inglês, a ideia de que a propriedade privada talvez mais valorizada, o "lar", possa ser compartilhado com a "coletividade".

Digo que esse estranhamento está mais no ponto de vista do diretor e da produção do longa do que, necessariamente, no ponto de vista dos personagens, porque o questionamento da realidade imposta pelo Comunismo não está, que eu me lembre, nas palavras de Jivago ou de qualquer um dos protagonistas; o estranhamento está, na verdade, na personagem claramente caricata da agente da Revolução, que impede que o antigo dono da casa tome posse de seus "bens". Também está (de maneira mais contundente, a meu ver), por exemplo, no tratamento igulmente caricato que é dado ao revolucionário Pasha, um exemplo quase que ideal-típico de racionalidade maquiavélica e de burocrata.

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