domingo, 21 de fevereiro de 2010

Carnaval segundo um chato

Vai-se o Carnaval, e em seu rastro ficam inúmeros comentários possíveis; eu farei alguns deles.

Por exemplo: finalmente, fez-se justiça ao Paulo Barros, que nesse recente processo de descarnavalização do Carnaval das escolas de samba do Rio encontrou a oportunidade para manifestar sua capacidade criativa inegável. Se os seus desfiles tem ou não a ver com a festa da qual fazem parte, isso é uma questão mais ideológica (com todas as ressalvas possíveis ao mau uso que acabo de fazer dessa palavra).

Tomando partido na peleja, tal vitória é, para mim, a clara demonstração de uma triste derrota: a do pessoal que milita pela valorização dos desfiles “à moda antiga”, aqueles com grandes sambas de enredo (caso do samba da Vila e da Imperatriz de 2010, ambos já com lugar na história dos grandes sambas) e com o povo das comunidades representando suas escolas com o “puro e simples” samba no pé. Carnaval carioca, ou pelo menos o da Sapucaí, virou coisa pra inglês (e burguês) ver. Um sintoma desse conflito, que (juro!) não é coisa só da minha cabeça, foi o fato de o Chico Pinheiro ter, durante a transmissão do desfile carioca, dado um jeito de abafar o discurso de um membro da velha-guarda portelense (ah, a grande Portela...), cujas colocações alinhavam-se com as opiniões mais conservadoras sobre o Carnaval carioca.

Outro ponto que eu posso destacar é a horripilância do desfile das Escolas de Samba paulistanas. É coisa de doer: os sambas de enredo são esquisitos e feios; basta comparar com os do Rio (que, seja feita a justiça, há muito tempo não via tão belas músicas desfilando no mesmo ano) para notar a clara discrepância. Mais uma coisa horrorosa: as baterias das agremiações de São Paulo, que parecem trens. A coisa não tem cadência nenhuma... enfim, mais uma vez, peço ao leitor que realize o teste comparativo entre Rio e São Paulo nesse aspecto. Haja ufanismo por parte dos marginais do Tietê para achar que o desfile deles é comparável ao carioca...

Mas o que mais me chamou a atenção, sem dúvida, foi o caos gerado pela massiva participação popular nos blocos de rua.

Minha opinião primeira, fruto de uma observação empírica superficial, caseira e sem pretensão alguma de se tornar qualquer tipo de pesquisa séria, é que as pessoas que costumam fugir do Rio de Janeiro no Carnaval simplesmente não o fizeram em 2010. O porquê disso eu não sei; talvez todo mundo tenha percebido que não faz sentido sair de um lugar que é provavelmente o maior pólo de atração turística nessa época do ano.

O fato é que a organização da maior festa popular carioca não se mostrou nem um pouco preparada para atender às demandas dos milhões de foliões que aproveitaram os blocos de rua cariocas. Não havia um número de banheiros públicos que fosse sequer próximo da necessidade da população e, o que é pior, os “mijões” ainda foram, em alguns casos, detidos pela polícia. Além disso, a onipotente Metrô Rio, com suas integrações mirabolantes e sua quase nula responsabilidade para com seus clientes, conseguiu deixar o fim do Domingo de Carnaval em Ipanema uma absoluta desordem: fechou a estação da Praça General Osório no fim da noite, na justa hora em que as pessoas voltavam para casa. Muitos ficaram nervosos, sob a ameaça de não voltarem para casa; outros deram algum jeito de fugir da situação. A alegação da empresa concessionária das linhas de transporte metroviário carioca foi que tinha gente demais pra entrar e os carros não dariam vazão; já eu, alego que a empresa agiu com uma inacreditável calhordice, posto que há muito tempo vem veiculando propagandas para que as pessoas, em eventos de apelo popular, usem o transporte público, sobretudo o metrô. Coisa de amador mesmo a administração desta empreseca, que, ao que parece, tenta fazer promessa sem ter merda no cu pra cagar.

Mais um destaque negativo para o Carnaval do Rio foi a absurda quantidade de pessoas furtadas nos blocos de rua, principalmente no Bola Preta. Quase todos que saíram para os blocos cariocas foram ou conhecem muitas pessoas que passaram por tal situação.