segunda-feira, 23 de novembro de 2009

"Mas que porra é essa?"

Aconteceu que eu resolvi ver o tal do "Crepúsculo".   

Antes que o julgamento de meu leitor imaginário pese sobre minhas costas, façamos os devidos esclarecimentos: era sábado à noite, eu não passava muito bem e não tinha mais o que ver na televisão. Para terminar as coisas sem que minha honra fique manchada, direi: por toda minha vida, sempre fui um grande soldado entrincheirado na guerra contra esse mercado dos megafenômenos adolescentes. Nunca vi um ramo do entretenimento tão vazio e tão sem criatividade.

Deu-se, entretanto, que além dos fatores já mencionados, eu de fato queria saber o que tem nesse negócio que mexe tanto com os jovens. O livro, por si só, foi o mais absoluto sucesso de vendas: todo ônibus cheio que se preze tem alguém lendo ele. O filme, entretanto, me pareceu por demais arrebatador; a sequência de "Crepúsculo", o longa "Lua Nova", é record de pré-venda de ingressos de cinema.E como, enfim, eu sou um ser humano muito ocupado, não podia perder meu tempo com algo que, meu preconceito já sabia, seria, no mínimo, uma tolice juvenil; perdi assim a opção do livro. O filme, que passou no Telecine, se tornou então o que havia de mais palpável para que eu fizesse minha prova real.

Sentei no sofá da sala sem saber que estava para apreciar uma das maiores bananadas da história do cinema.

"Crepúsculo" não é apenas uma daquelas historinhas adolescentes bobas e fáceis, que vêm cada vez mais se consolidando como um dos maioires filões da indústria cinematográfica. Não; esse filme tem algo pior. Para começar, nele o mito e a figura do vampiro são destroçados: no universo criado pela quacker desocupada Stephenie Meyer, as criaturas noturnas têm seu drama mais interessante derrubado, e podem andar durante o dia desde que o tempo esteja nublado (?).

O que mais me impressionou na destruição do vampiro, entretanto, foi o modo de vida médio-classista norteamericano em que vive a família dos vampiros vegetarianos do filme: eles andam em carrões, moram em uma casa bem-equipadinha feita de vidro (!) e, pasmem, frequentam high-schools para poderem catar umas novinhas mortais. O mundo underground, satânico e obscuro em que outrora habitaram os vampiros deu lugar, em "Crepúsculo", a um modo de vida fútil e imbecil, que simplesmente não faz sentido pelo seguinte: que criatura imortal, dotada da sabedoria dos séculos, se importaria com draminhas idiotas de popularidade, aceitação e adequação?

 Enfim, a história é um retardadice sem tamanho. Mergulhado em inúmeros clichês, "Crepúsculo" tem um enredo enfadonho, engasgado, que demora pra começar. Os dois protagonistas do pseudoromance são as coisas mais rasas que se pode imaginar; a química entre eles é tão pouca que eu simplesmente não entendi até agora como foi que eles resolveram ficar juntos. Minha única hipótese é que aquela menininha sem sal tem um complexo de Édipo meio invertido e, depois de ter visto umas fotos do pai nos anos 50 (ou 60?), resolveu pagar pau pro frangote branquelo metido a misterioso,cujo visual fora de moda dá direito até a um casacão de couro e a um gelzinho no cabelo. Só faltou o cigarro.


Em termos cinematográficos, "Crepúsculo" também é um disparate. A atuação de Robert Pattinson ultrapassa formidavelmente sua cota de ridicularidade; desconfio que ele tenha feito curso de atuação no mesmo lugar que o Hayden Christensen estudou para fazer o papel de Anakin Skywalker, e lá aprendeu a fazer cara de triste/puto/confuso/apaixonado inclinando a testa pra frente e fazendo biquinho.


A direção do filme também é horrorosa: até os papéis de pouco destaque são afundados por seus representantes. E não é possível que um bom diretor não perceba que aquele negócio de os vampiros, ao se ouriçarem, fazerem cara com testa enrugada e caninos à mostra, é algo que é de uma falta de criatividade imensa.

Além disso, o roteiro é uma cagada sem tamanho. Além de explicar mal um monte de coisas, provavelmente pouco ajudado pelo material do livro, um fato do filme é absolutamente inexplicável mesmo: por que diabos, meu Deus, o pessoal fugiu tanto do vampiro mauzão se,no fim das contas, ele foi morto com extrema facilidade?

O ápice da ruindade do filme é a seguinte cena: os vampiros jogando Baseball. Puta que pariu, é uma das cenas mais constrangedoras da história do cinema. Sério, eu tirei do canal por alguns minutos; não dá. A coisa é muito, muito, muito mas muito imbecil mesmo, chega a ser vergonhoso. Foi nessa hora que eu disse a frase do título do post: "Mas que porra é essa"? No fim das contas, acabei vendo o filme até o fim; afinal, como você pode ver no título do blog, eu tenho um lado meu meio sádico. 

Enfim, só uma pessoa com o senso crítico zerado pode atribuir algum valor a uma porcaria dessas. Lamentável.